Me sinto levemente desconfortável por entender que causo indignação, mas não me martirizo (mais) por isso. Mas senhores, não se indignem: a arte serve como justificativa pra quase qualquer coisa. Acreditem. Não em mim, mas no estado das coisas. Senhores: corpo é apenas corpo e nossa mente nos mente, então pra que iludir-vos em questionamentos que não lhes levarão a lugar algum que não seja a mesmice do “mais além”? Mais além este que mal chega na pretensa esquina de qualquer caminho mental que vocês nem sequer conseguem imaginar que exista.
O que houve foi sonho, foi vago, superficial. Foi pra debaixo da minha pele, mexeu com as minhas endorfinas, perpassou entre meus nervos e torneou alguns de meus músculos, o que fez tudo PARECER real. Mas foi com muito bom grado que me deixei levar, participar e atuar em alguma parte relevante – talvez nem tanto – de vossas existências. Algo que pra mim é muito claro, mas que, ao que parece, é preciso relembrá-los sempre: senhores: vocês são mais do que o que vivenciam. Sempre foram. Só precisam acreditar nisso, pra que isso seja possível.
Eu acredito. Não em vocês, nem em mim. Mas nas possibilidades dos sonhos e das interpretações e de como tudo pode ser transformado e transformável, mesmo quando não se faz absolutamente nada pra isso. Ou ainda quando se parece HOSTIL. Ou ainda quando se parece MAGOADA. Ou ainda quando se diz ATRAÍDA. São cenas, sonhos, confusões, detalhes… E eu guardo todos os detalhes que constam, bons e ruins. O contra-regra é sempre a favor da regra, e sempre está ALÉM dos atores, atuações, cenas, cenários.
Portanto senhores selo meus lábios nos vossos. Agradeço pelas coisas que não aconteceram. Agradeço pelo vácuo, pelas histórias que não participei. Tenho (e tive) todos os senhores dentro de mim e poderei reassistir as mesmas cenas quantas vezes eu desejar. Atores mudam, cenas idênticas, não vou saber o que é real e o que é fictício, vou me envolver, vou me perder, me reencontrar, me APAVORAR e aí, como num passe de mágica, num corte de câmera, numa outra tomada, tudo ficará BEM novamente. E com vocês também, senhores.
O cenário mudará. A língua, costumes também. Mas o teatro sempre pode ser cinema e cinema é sempre vida, vivência, detalhes e não-experiência. Não há como fugir disso e se se foge disso ainda assim, retorna-se e cria-se algo similar a isso, mesmo por que são padrões que se repetem. Não é difícil entender isso. Mas as histórias são sempre as mesmas, só que se refazem e então parecerão outras, sempre. Se não comigo senhores: com outras. E outras. E outras. Até o dia em que lhes direi adeus pela última vez.
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