por Celso Martins, no jornal A Notícia
Fábrica mantém receita há 63 anos
Mistura de açúcar e coco é a fórmula dos populares tabletes Dalva
Florianópolis, década de 1920. O jovem Alberto Henrique Schütz começa a traballhar em uma fábrica de balas de coco de propriedade de Rodolfo Hickel, localizada na rua Almirante Lamego, defronte à atual Caixa Econômica Federal. Trabalhador aplicado e pontual, foi subindo na hierarquia da empresa até chegar ao cargo de mestre-de-produção industrial, onde permaneceu até 1943, quando a Segunda Guerra estava em andamento. “Meu pai não chegou a ser perseguido, mas algumas famílias de origem alemã da região da rua Almirante Lamego sofreram bastante e muitas pessoas chegaram a fugir para Palhoça e outros locais, onde se esconderam”, recorda Alberto Schütz Júnior (Nêne), filho do fundador da fábrica de balas e tabletes Dalva. “O produto era feito artesanalmente”, lembra Nêne, e o antigo empregador de seu pai não chegou a sofrer com o novo concorrente, “pois a população estava crescendo e muitos imigrantes chegavam devido à guerra”, recorda.
Em pouco tempo, o novo produto conquistou o mercado, atraindo crianças e adultos, situação que se manteve ao longo dos anos. A embalagem criada na época é a mesma que envolve os tabletes até hoje, nas cores amarelo e vermelho, com a seguinte inscrição: “Doce de coco em tabletes Dalva”. O sucesso do produto foi tão grande nas décadas seguintes, que surgiram pelo menos mais três fábricas de tabletes de coco, todas usando as mesmas cores nas embalagens. “Não adianta recorrer judicialmente, só se colocarem o mesmo nome Dalva”, justifica Augusto Schütz, neto do velho Alberto e filho de Nêne, a terceira geração da mesma família a cuidar do negócio. Outro problema enfrentado pela empresa é com empregados que tomam contato com a receita da bala e depois pedem demissão dispostos a abrir outra indústria do mesmo produto. “Corremos esse risco. Saber a receita qualquer funcionário sabe, mas ele vai precisar de capital para adquirir os equipamentos”, destaca Augusto.
A fábrica de balas Dalva permeneceu no mesmo endereço da rua Almirante Lamego, uma paralela da avenida Beira-mar Norte, até 2001, quando teve que se transferir de local. “O pessoal da vigilância sanitária começou a nos procurar, sob o argumento de que a cidade havia crescido e não caberia mais a presença de uma instalação industrial na região”, lembra o neto do velho Alberto Schütz. Além disso, as atividades no local começavam às 7 horas, quando os equipamentos eram ligados e a produção começava, com todos os barulhos que isso implica. Em represália, alguns moradores dos prédios vizinhos passaram a jogar objetos no telhado, incomodando os operários e danificando a cobertura. Foi quando a família se reuniu e resolveu instalar a unidade no número 349 da rua Arno Eleotério dos Santos, em Biguaçu. “Só estamos aguardando o sinal verde para nos instalarmos no futuro Distrito Industrial de Biguaçu, quando poderemos nos livrar do aluguel que pagamos por este espaço que ocupamos”, explica Augusto. Nas futuras instalações será possível adquirir novos equipamentos e ampliar um pouco mais as vendas dos tabletes Dalva – o principal produto – e das balas queimadas com amendoim torrado.
Produção artesanal se manteve até os anos 90
Até 1990, toda a produção era totalmente artesanal. O coco ralado era colocado em uma caldeira alimentada com lenha e mantido assim por cerca de uma hora e meia a uma temperatura de 180 graus. Depois a massa era espalhada manualmente sobre uma mesa, onde permanecia por entre 15 e 20 minutos para esfriar, ficando pronta para ser cortada em pedaços (tabletes). Mais tarde, elas eram embaladas uma a uma. A situação começou a mudar no final da década de 1990, quando Nêne, filho de Alberto Schütz, começou a pensar em mecanizar a produção, tendo ido a São Paulo adquirir um equipamento para embalar os tabletes. Outros maquinários foram sendo comprados com o passar dos anos, até a fábrica chegar ao estado em que se encontra atualmente.
“A primeira fase da elaboração das balas continua como antes. A diferença é que possuímos uma máquina para cilindrar ou prensar a massa, que já corta os tabletes no tamanho padrão de 3,5 centímetros de comprimento. O passo seguinte é a embalagem automática”, lembra o funcionário mais antigo da fábrica, Israel I. Florindo, 42 anos, desde 1981 na atividade. Atualmente, a fábrica consegue produzir cerca de 300 quilos diários de tabletes, podendo chegar a até 700 quilos com a mesma infra-estrutura. Para produzir mais serão precisos novos equipamentos, “sem que isso signifique a perda da qualidade”, assinala Augusto Schütz. Se isso vai ser feito ou não, só será possível saber depois que a unidade estiver instalada no Distrito Industrial de Biguaçu.
O pai de Augusto, Nêne, não acredita muito que a ampliação da produção garanta a manutenção da qualidade, mas deixa para o filho a tomada de qualquer decisão neste sentido. Tendo começado a atuar na fábrica com 19 anos de idade, em 1962, Nêne enfrentou diversas dificuldades para manter a produção, tendo também providenciado a troca da denominação do tablete. De “Bala de Coco Dalva” passou para “Doce de Coco em Tabletes Dalva”, mas “sem mudar em nada sua fórmula original de fabricação”, enfatiza.
Distribuição é restrita à Grande Florianópolis e Sul do Estado
O quilo do tablete Dalva é vendido atualmente por R$ 6,90. Se o produto for levado para ser vendido na capital paulista, por exemplo, o preço subiria para R$ 9,00, devido ao frete, e não conseguiria competir com similares fabricados na mesma cidade. “Por esse motivo as balas são distribuídas apenas na região de Florianópolis e em cidades do Sul do Estado, como Tubarão e Criciúma”, explica Augusto Schütz. Depois de prontos, os tabletes são colocados em embalagens de um quilo e de 1,8 quilo, seguindo então para cerca de 50 distribuidores que os deixam em aproximadamente 650 pontos de venda da Grande Florianópolis e nas cidades do Sul do Estado. A opção pela permanência no mesmo mercado tem outras razões, segundo o jovem empresário.
“Nossos tabletes são feitos de coco puro e têm o mesmo sabor desde que a fábrica foi criada pelo meu avô”, salienta. “Os concorrentes”, observa, “misturam essência de coco e farinha de trigo, o que altera o sabor. Como estamos com a mesma fórmula ou receita de quando a atividade se iniciou, confiamos na qualidade do produto e suas vantagens.” Além da entrega aos distribuidores, a fábrica realiza vendas diretas, recebendo pedidos através de cartas, e-mails e ligações telefônicas. “As pessoas pedem dois ou três quilos, mas não podemos enviar”, observa Augusto. Entretanto, dezenas de pessoas com parentes em outros Estados aparecem na fábrica de balas Dalva antes de viajar para adquirir os tabletes e levá-los de presente.
O fundador da unidade, Alberto Schütz Júnior, viveu tempo suficiente para ver todas essas transformações (maquinários) e permanências (fórmula), além de acompanhar os esforços do filho Nêne e agora do neto. Morreu em maio de 2004, com 92 anos de idade, tendo deixado uma herança para a família e uma deliciosa tradição para os consumidores privilegiados de Florianópolis, onde suas balas podem ser encontrados em diversos pontos.